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Quando "pra" será formalizado?

Portuguese Language Asked on August 27, 2021

Na minha opinião, "pra" ser usado em contratos e leis é apenas uma questão de tempo. Presidentes, governadores, advogados, âncoras de jornais e propagandas falam "pra"; "pra", na lingoagem falada formal, já é aceita, então, eu acho que é apenas uma questão de tempo.

Eu acho que funcionará da seguinte maneira:

para = pra

para a(s) = prà(s) = pra a(s)

para o(s) = pro(s) = prò(s) = pra o(s)

Porém, tenho dúvida sobre "pró(s)".

Também acho que haverá outras contrações:

proutro

pralguém

proutrem

pralgo

pralhures

pralgures

praquelotro

praquele

pralgum

etc.

Há fundamento na minha hipótese? E quando "pra" será formal em contratos e leis?

2 Answers

Pra, pro, prà, prò

As contrações pra + a e pra + o (e respetivos plurais) já existem, mas são grafadas simplesmente pra e pro. As grafias que tu sugeres, prà e prò, eram na verdade as grafias oficiais em Portugal antes do acordo ortográfico de 1990 (mas não no Brasil):

Ele vai prà China [= para a China]

Ele vai prò Brasil [= para o Brasil]

Ele vai pra Portugal [= para Portugal]

Isto estava explicitamente previsto no acordo ortográfico de 1945 (artigo 24), adotado em Portugal mas não no Brasil. Mas o acordo ortográfico de 1990 (Base XII) prevê o uso do acento grave apenas nas contrações envolvendo a preposição a (à, àquele, àqueloutro, àquilo, etc.), e o entendimento dos dicionários é que agora pra + a = pra e pra + o = pro tanto no Brasil como em Portugal. Vê dúvida linguística no FLiP (Priberam). De modo que qualquer dicionário atualmente te diz que pra é o mesmo que para e também a contração de para com a. Vê Priberam, Porto Editora, Aulete, Michaelis.

Agora, quando é que estas formas serão adotadas em documentos formais, eu nem sei prever, nem levo a sério quem afirme saber. Não sei sequer se alguma vez serão adotadas.

As outra contrações com pra

Quanto às outras contrações que tu sugeres, ouso prever que não serão adotadas. Eis porquê.

Com algumas exceções, as formas que tu sugeres correspondem à pronúncia normal: por exemplo, pra algum é naturalmente pronunciado como pralgum. Isto não é simplesmente pronúncia descontraída: é a pronúncia normal, apropriada tanto para conversas entre amigos como para discursos solenes (bem, num discurso solene será mais provavelmente paralgum). Mas esta contração é um fenómeno fonético muito comum quando duas vogais átonas se encontram. Exemplos:

Rosa azul             →     rosazul
Rosa inigualável   →     rosinigualável
Rosa oculta          →     rosoculta
Rosa universal     →     rosuniversal

Ora não me parece que faça mais sentido escrever pralgum do que rosazul, cravindiano, leitazedo ou, com apóstrofos para facilitar, el’insult’inimig’armad’e apanh’um balázio. Mas não creio que alguém queira escrever assim (mas já se escreveu poesia medieval assim, com apóstrofos).

Uma vantagem de não representarmos graficamente estas contrações da fala, é podermos escrever a mesma palavra sempre da mesma maneira. Caso contrário teríamos de escrever (vou usar apóstrofos para facilitar) ros’ universal mas, pelo menos no meu sotaque, rosa única (o -a não se funde com vogal tónica) e rosa branca. Pela mesma razão teria de ser pra algo e pra outro mesmo que fosse pralgum, praquele, etc.

Isto de escrever a mesma palavra sempre da mesma maneira reflete a maneira como o nosso cérebro funciona. Diz o psicolinguista Steven Pinker em O instinto da linguagem, que acusticamente as nossas frases são um som contínuo (como elinsultinimigarmado), mas nós mentalmente ouvimos palavras individuais; ouvimos rosa quer o -a final seja pronunciado (rosa branca, rosa única) quer não seja (ros’ indiana). Só prestando deliberadamente atenção é que notamos as elisões de vogais.

Correct answer by Jacinto on August 27, 2021

Não vejo fundamento na sua hipótese. Vamos por partes.

A linguagem oral não é exatamente formal apenas porque o emissor exerce uma área que, na maior parte do tempo, exige formalidade, tais como advocacia, jornalismo e entre outras. Baseado nisso, é possível afirmar que você está enganado quando diz:

Presidentes, governadores, advogados, âncoras de jornais e propagandas falam "pra"; "pra", na lingoagem falada formal, já é aceita, então, eu acho que é apenas uma questão de tempo.

Quanto ao uso. Se essas contrações fossem aceitas pela norma culta, algumas não seriam como você disse. Observe:

para = pra; para a/para as = pra/pras; para o/para os = pro/pros;

Como você pode notar, eu corrigi as duas últimas frases. A razão disso é que, em primeiro lugar, para não exige um artigo, na maioria das vezes. Quando exige (ex.: para a praia), o correto seria simplesmente utilizar "à", já que o artigo a já está contraído em "pra". Portanto, é totalmente incorreta a adição do acento grave em "prà", "pràs", "pròs" e "prò". Em segundo lugar, não há necessidade de adicionar um artigo após a contração "pra" ou "pro", pois a contração já contrai a preposição e o artigo.

Em relação a outras contrações, não é questão de "acho que haverá". A maioria das contrações que você citou já existem e são utilizadas, principalmente no meu estado (Ceará). Todas, com exceção de "pralgo", "pralhures", "pralgures" e "praquelotro", que acredito que não existem, são utilizadas com extrema constância, já que é parte do nosso dialeto. Então, suponho que a real questão seja se estas contrações seriam também aceitas pela norma culta e esta pergunta eu respondo abaixo.

Em equidade a "pra" e "pro", acredito que estas contrações não serão aderidas na norma culta. Não é porque falamos algo com constância que está certo. Falamos desse modo porque é mais confortável, mas isso não altera o que está determinado pelas normas.

Por fim, "E quando "pra" será formal em contratos e leis?". Não tenho como saber e afirmar se isso sequer vai acontecer. Esta pergunta não deveria estar sendo feita nessa comunidade, pois trabalhamos com fatos, não com suposições ou opiniões pessoais.

Answered by Chanp on August 27, 2021

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